sexta-feira, 31 de julho de 2009


CURUMIM

Preserve tua vida
inocência
tua vida permanência





NA LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA

Há hoje no Brasil 69 referências de povos isolados espalhados pela Amazônia Legal. Todos estes povos – ou frações de povos – estão reduzidos a pequenos grupos, gravemente ameaçados pelas frentes de expansão e exploração na Amazônia e pela ação ilegal de madeireiros, posseiros, missionários e garimpeiros.

É importante ficar claro que o termo “índio isolado” não significa que esses indígenas nunca tiveram contato com a sociedade nacional, mas sim que optaram pelo isolamento, muito provavelmente, após experiências traumáticas vividas no passado.

Quantificar esses povos é tarefa complexa e cheia de imprecisão. Notícias diversas, relatos de confrontos são os indícios que constroem a informação de uma população indígena desconhecida e possivelmente sem contato. A partir daí, cabe a Funai averiguar in loco as informações, procurando indícios e provas materiais – como sinais de acampamentos, objetos utilizados abandonados, caminhos na mata – para que a identificação legal da área como Terra Indígena seja feita.

Hoje, com uma nova política de atuação, a Funai tem uma coordenação específica – a Coordenação Geral de Índios Isolados – responsável por planejar, normatizar e supervisionar as atividades relacionadas aos índios isolados no âmbito governamental. A execução fica a cargo das Frentes de Proteção Etnoambiental, que exercem em campo as políticas públicas de localização e proteção de grupos isolados e de contato recente.

Conversei com o responsável pela área, o historiador e indigenista Elias Bigio, para entender melhor a atuação da Funai com índios isolados, as ameaças vividas por esses povos e os desafios para um futuro em que se respeite essa opção pelo isolamento.

Qual a situação dos índios isolados no Brasil?

Elias Bigio: O sistema de proteção para índios isolados no Brasil foi criado no final da década de 1980, no contexto da discussão da Constituinte. Era o momento de discussão de formas de garantir direitos aos povos indígenas no Brasil. Foi aí que começou uma discussão sobre respeitar a opção de índios que não quereriam contato com a sociedade nacional. Foi nesse contexto, então, que foi criado um sistema de proteção aos índios isolados no Brasil.

Hoje, 21 anos depois, estamos trabalhando com 69 referências de grupos isolados espalhados pelos estados da Amazônia Legal. Dessas referências, nós temos cinco povos contatados e nosso trabalho é proteger seu espaço físico e regularizar sua terra para que eles possam fazer sua reprodução física e cultural, de acordo com o que determina a legislação.

E como está a situação das terras para esses povos?

EB: Independentemente de ter contato nós temos terras indígenas demarcadas para isolados e também temos terras com restrição de uso. Ou seja, é um território que ainda está em processo de regularização, mas que já está sendo monitorado, como é o caso da terra dos índios Piripkura, contatados em 2007, ente os municípios de Colniza e Rondolândia, no Mato Grosso. Apesar de termos poucas terras para índios isolados já demarcadas, a maioria desses povos de que temos referência estão contemplados nesses territórios.

O que levou a Funai a fazer contato com esses índios Piripkura, em 2007?

EB: Veja, em todo o século 20, a estratégia era de contato. Tanto é que tínhamos as Frentes de Atração, ou seja, eram grupos treinados para atrair os índios e integrá-los à sociedade. Isso muda radicalmente e legalmente a partir de 1987/88, quando a política passa a ser a de respeitar a autonomia desses povos e seu desejo de não manter um contato regular com a sociedade nacional.

Então, nos dias de hoje, só se faz contato com grupos que estão em situação muito vulnerável. E esse era o caso desses Piripkura. Eles estavam numa situação de muita vulnerabilidade, pois a terra que eles ocupavam ficava no limite entre os municípios mato-grossenses de Rondolândia e Colniza, apontada como a cidade mais violenta do país. É uma área de intensa exploração madeireira e por isso essa terra vive uma pressão muito forte. Então, nós não tínhamos como não fazer esse contato. Foi um contato para garantir a sobrevivência e a segurança desses índios. E mesmo após o contato, nós não temos uma relação frequente com eles, até porque eles não querem. De 2007 pra cá, nós fizemos três contatos com eles apenas, para ver como estavam de saúde, já que são apenas dois índios. Instalamos nessa região, uma base onde fica a equipe da Frente de Proteção Etno-Ambiental do Madeirinha, essa equipe faz uma fiscalização diuturna nessa região para não haver invasão nessas terras. Paralelamente, o Ministério Público do MT entrou com uma ação na Justiça Federal para garantir a extrusão e a paralisação da exploração madeireira no local.

Hoje, qual a principal ameaça para esses povos?

EB: É sem dúvida a atuação ilegal. Seja ela de madeireiros, narcotraficantes, posseiros… Como nós estamos, prioritariamente, em regiões de fronteira, onde a presença do Estado não é tão forte, essa acaba sendo a maior vulnerabilidade.

E grandes empreendimentos, como os propostos no Programa de Aceleração do Crescimento, do presidente Lula?

EB: Eu acho que existe um espaço para que os órgãos governamentais se articulem e planejem ações para mitigar e proteger os povos indígenas nesses casos, sejam eles isolados ou não.

Então, você acha que não há problemas com a construção das hidrelétricas do Madeira, por exemplo, mesmo tendo referências de índios isolados lá?

EB: Existem referências de povos indígenas isolados sim naquela região, mas as hidrelétricas não estão dentro das terras indígenas. Porém, certamente, elas trarão impactos aos povos indígenas – já contatados ou não. Mas cabe à Funai implantar projetos de proteção àquelas terras indígenas. E já dentro desse contexto de expansão que está havendo no Amazonas, nós reativamos a Frente Purus, porque ali tem muita referência de índios isolados nas duas margens do Madeira. Então, essa Frente vai nos ajudar a proteger esses povos.

Na sua opinião, é possível então aliar o dito “progresso” com a garantia dos direitos indígenas?

EB: Nós não temos como fugir disso. Vamos ter que pensar no desenvolvimento do país, mas sem deixar de lado os direitos dos povos indígenas. Até porque a legislação brasileira nos obriga a atuar na garantia dos direitos desses povos. E é isso que vamos fazer. É nosso grande desafio.

Uma política efetiva de povos isolados só quem tem é o Brasil. E essa referência tem sido discutida em fóruns internacionais, inclusive. Estamos pensando estratégias de garantir a opção de esses povos viverem isolados. Então, nossa perspectiva é de identificarmos as áreas de ocupação desses índios e fazer demarcações. Assim, garantiremos um futuro para que esses povos continuem tendo a opção de se manter longe do contato, independentemente de grandes obras e expansões.

Mas não ficará mais complicado o processo de demarcação de terras indígenas depois das exigências e pedidos de alteração do processo demarcatório pelo STF, após o julgamento da Raposa?

EB: Veja, o que está em vigor é o decreto 1775/96, que regula os procedimentos de demarcação de terras indígenas. Nada mudou. Talvez aconteça alguma mudança, mas eu acho que existem movimentos em favor de se assegurar os direitos indígenas. Por isso, ainda não vejo essas questões colocadas pelo STF como um obstáculo para as demarcações e consequentemente para a garantia dos direitos desses índios viverem em seus territórios, longe do contato com a sociedade nacional.


Fonte: http://christianeperes.wordpress.com/


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RIOS AMAZÔNICOS / ÁGUAS GRANDES

Cabem em mim, bem fundo
com suas águas muitas
lambendo a quentura
banhando lembranças
amamentam versos
arrebentam verdes
arrebatam gentes
afundando cores

dulcíssimas águas
que habitam em mim
são guerreiras águas
navegam em meus poros
onde quer que eu vá

inundando a mente
inundando as margens
inundando a mata
banhando quenturas
lavando lembranças

poderosas águas
as de minha infância
de selva, de mato
de banhos gelados
nos igarapés
caminhos- canoas
emergindo líquidos
nessa maré cheia
de encantarias
arrebatadoras

águas grandes águas
grandes águas grandes

Aline de Mello Brandão

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domingo, 26 de julho de 2009

A IRA DOS IKAIRITI

26 06 2009

Segundo a crença Enawenê-Nawê, os Yakairiti são os “espíritos do subterrâneo”. São eles, os responsáveis por todas as coisas ruins que acontecem na vida desses índios que habitam o noroeste do Mato Grosso.

Digo isso, porque a aldeia vive dias tristes com a morte de uma das principais figuras desse povo, o velho Kawali. Segundo a crença Enawenê-Nawê, a morte do seu sotakatare (mestre dos cantos) deve ser mais uma demonstração da ira dos Yakairiti. 2009 não começou bem para os Enawenê. Após um período de resistência no fim do ano passado para impedir a construção de dez Pequenas Centrais Hidrelétricas no rio Juruena, esse ano teve início com uma epidemia de malária entre os índios e a pesca do Yãkwa – principal ritual do grupo – foi um fracasso. Mau sinal.

Kawali, na verdade, morreu sozinho em sua roça, no dia 24, quarta-feira, vítima de uma mordida de cobra. Ainda não se sabe como isso tudo influenciará a rotina desses índios que se guiam pela fé e pelo medo e buscam incansavelmente o equilíbrio com a natureza. Em 2006, quando pude compartilhar a vida por uns dias com os Enawenê-Nawê, Xayoene, um dos índios que conversou comigo, numa frase me deu a dimensão do significado do Yãkwa e da necessidade de agradar os Yakairiti. Ele disse: “Os Yakairiti ficam bravos e vão matar todos e trazer doenças, se alguém deixar de plantar mandioca e de trazer o peixe.”

Que este seja o fim da ira dos Yakairiti sobre os Enawenê. Um povo alegre, amigo e cheio de garra pra lutar pelos seus ideais.

Abaixo, compartilho um texto publicado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI) sobre a morte de Kawali.

Morre Kawali, grande líder político e espiritual do

povo Enawene Nawe

Por Ana Paula Lima Rodgers, Edison Rodrigues de Souza, Juliana de Almeida e Vincent Carelli


Os Enawene Nawe sofreram um duro golpe. No dia 24 de junho faleceu Kawali, um dos representantes mais expoentes desse povo, aõre (líder) e sotakatare (mestre de cantos). Sem dúvida um dos maiores virtuoses dos últimos tempos de sua própria e complexa cultura. Mestre ímpar na arte da palavra, cantada ou falada, Kawali dominava excepcionalmente os caminhos da eloqüência musical e retórica, condições que inevitavelmente o talharam como um grande chefe desde muito cedo. Essa tragédia se coloca num contexto difícil e controverso da atual conjuntura. Líder político e espiritual, Kawali era a figura que mais lutava pela demarcação do Adowina (Rio Preto) e resistia frente aos complexos problemas relacionados à implantação de hidrelétricas no Juruena. Sozinho em sua roça, ele não resistiu a uma mordida de cobra e quando foi encontrado já não tinha mais vida. Os últimos tempos têm sido de muita efervescência para o povo Enawene Nawe. A intensificação do contato somada à necessidade de se relacionar com os eventos da exterioridade tem causado muitos tumultos, incertezas, desavenças e contradições. O primeiro golpe que os Enawene Nawe sofreram em 2009 foi uma epidemia de malária que acometeu quase 35% da sua população. A epidemia só foi contida após três meses da ocorrência dos primeiros casos. Nesse mesmo período os Enawene Nawe saíram para as tradicionais barragens de pesca do ritual Iyaõkwa. Para surpresa e angústia de todos um fato assolou a pescaria: acostumados com uma grande quantia de pescado que eles acessam todos os anos por meio das barragens, desta vez o peixe não veio. Desesperados com a situação os Enawene Nawe apelaram para a assistência da Funai que adquiriu três mil quilos de tambaqui. Mesmo com o apoio da Funai a quantidade de peixe foi muito abaixo da necessária para a realização das trocas cerimoniais do ritual e conseqüentemente irrisória para atender à demanda alimentar dos Enawene Nawe. A falta dos peixes os deixou com precária alimentação simbólica e orgânica, para eles um prenúncio da ira de espíritos que não aceitam a ausência de farta oferenda de peixes. Grande perda Pessoa de extrema generosidade, o falecimento de Kawali não representa apenas uma perda insubstituível, se trata de um evento que somado às pressões de várias frentes desenvolvimentistas no entorno de seu território coloca o povo Enawene Nawe em uma condição de extremo cuidado, pois os priva do sábio filósofo das florestas do Juruena. “Sou eu quem não dorme à noite”, diria o grande sotakatare referindo-se à dura vigília e destino de seu ofício. Recado dos espíritos Yakaliti ou triste acaso do destino, a morte de Kawali representa uma grande perda. Sua sabedoria e carisma, sempre acompanhados de uma boa dose de ironia e argúcia extremas, com certeza deixarão saudades aos familiares, a todo o povo Enawene Nawe e a todos aqueles que de alguma maneira puderam gozar o privilégio de estar junto a ele. Que nos deixemos todos contagiar pela disposição e sabedoria incomparáveis do mestre, que através de arte e conhecimento soube praticar a grande e singular resistência exercitada há séculos pelas populações tradicionais de nosso país.

fonte: http://christianeperes.wordpress.com/



CURUMIM - ENAWENE NAWE

Palavras são dispensáveis!








quinta-feira, 16 de julho de 2009


YÃKWA

Festa ritual dos
índios
Enawene-
Nawe






Festa ritual dos índios Enawene-Nawe em homenagem aos espíritos subterrâneos - donos dos recursos naturais e das doenças. É realizada depois que uma série de catástrofes provocadas pela ação dos espíritos subterrâneos, sob a forma de ataques de onças, monstros aquáticos, tribos inimigas e epidemias quase os dizimou totalmente.

A etnia
Os Enawene-Nawe moram na aldeia Matokodakwa - noroeste do Mato Grosso (Brasil). Também são conhecidos como os Salumãs. Nas suas crenças são descendentes de um único casal de seres humanos, suas tribos ancestrais originalmente habitavam o interior de uma pedra e, graças ao auxílio de um pica-pau, que fez um buraco na pedra abrindo uma passagem ao mundo exterior, eles se espalharam pela superfície da terra.
São muito bem humorados.

Os costumes
Mudam com freqüência de aldeia. A mudança geralmente é provocada pelo esgotamento dos solos em seus arredores, somado ao acúmulo de defuntos enterrados sob o chão das casas – o que atrai perigosamente os espectros sinistros dos mortos. Entre outras atividades as mulheres cuidam das roças e os homens das pescarias.
Dentro de sua cosmogonia o mundo tem 4 camadas: a terra; acima da terra onde ficam os Enores; acima dos Enores, a vastidão universal; e abaixo da terra, os Yakairitis.

A festa. Yãkwa

Alguns índios nos esperavam na margem direita de quem desce o Rio Iquê. Na nossa chegada conversas rápidas e ajustes nos enfeites corporais de fibra de buriti. Um deles assume o controle do barco e fomos rio acima numa quase corrida fluvial.
No porto mais próximo da aldeia alguns Hari-Kares (anfitriões), jovens e crianças esperavam os Yãkwas – pescadores. Ali são descarregados os peixes moqueados envoltos em peças de taquara e transportados em cestos nas cabeças dos índios. Velhos, jovens e crianças caminham em fila até avistarem a aldeia. Com gritos, sons e cantos uma nova energia toma conta dos pescadores.



Na subida final a tensão aumenta. Logo em frente os Yãkwas entram na aldeia carregando cestos e estandartes - um peixe moqueado na ponta de um galho. Neste caminho são presenteados com cuias de mingau. Grupos de meninas e mulheres esperam ao lado das malocas.



No centro da aldeia os pescadores Yãkwas são recebidos pelos Hari-Kares já enfeitados com fibras de buriti e adornos plumários.
A recepção é uma topada de peito com peito. Não é uma briga. É uma troca de sensações: chegando e deixando chegar depois de mais de 40 dias pescando em rios distantes da aldeia. O receber inclui a produção de beijus, sal vegetal (feito de folhas das palmeiras – função feminina), enfeites, flautas e mingaus.



Também construir a fogueira principal cercada por estacas, em círculo, no meio da aldeia. Nas estacas são amarradas peças feitas com resinas vegetais e envoltas com folhas de pacova. Quando acesas viram tochas perfumadas e determinam um palco/círculo.


No período da vazante dos rios, as tardes e noites da Aldeia Matokodakwa são envolvidas no som inebriante de várias flautas, cantos e danças agradecendo a pescaria e a boa safra.

Texto e fotos de Juvenal Pereira
fonte: http://caxiuna.blogspot.com/2007/09/ykwa.html


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UM SOPRO

Venho de terra distante
De fogo que queima o céu
De vento que lança semente
De lança que atinge o infinito
Venho de um brado rompante
Que risca o vale e os montes
De águas que aplacam mil sedes
Suspiros de grandes lutas vencidas
Venho de onde vem o universo
Venho anunciando a mudança
Trazendo comigo a farta herança
De todos os seus ancentrais

Lena Ferreira

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segunda-feira, 13 de julho de 2009




Espécies ultrapassam 200 no Coluene, alerta pesquisador


O rio Coluene, na bacia do Xingu, tem um universo 10 vezes maior de espécies que os peixes conhecidos há bem pouco tempo. Um dos principais pesquisadores da área no Estado, Flávio Lima, eleva em mais de 200 o número de espécies conhecidas no rio desde 2006, quando contava-se cerca de 20 tipos diferentes. O trabalho, que tem o objetivo de conservar essa diversidade, é um dos destaques no XVIII Encontro Brasileiro de Ictiologia, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

O levantamento de inventários realizado pelo pesquisador, além de base para futuros estudos, é essencial para se avaliar possíveis impactos na fauna aquática de construções como as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH’s), empreendimentos estratégicos para a política energética do Estado e do país.

No Brasil, existem mais de mil espécies de peixes catalogadas, e duas novas são registradas a cada semana. No rio Culuene, segundo Lima, a pesquisa colheu 30 mil exemplares de peixes e revelou que ainda falta catalogar até seis espécies novas neste que é o principal contribuinte da bacia do Alto Xingu – e sagrado para as etnias indígenas do local. No rio, distante a cerca de 50 quilômetros de aldeias xavantes, está instalada a PCH Paranatinga II, de aproximadamente 29 mil quilowatts, entre os municípios de Paranatinga e Campinápolis.

Os levantamentos de inventários ictiológicos são essenciais para a preservação da biodiversidade antes da construção de empreendimentos como as barragens hidrelétricas. Por mais que eles sejam projetados de modo a evitar grandes danos, sempre oneram o meio ambiente, segundo Lima. ”As hidrelétricas significam perdas inevitáveis de diversidade. Construí-las funciona como desmatar uma floresta. As espécies que ficam são apenas uma fração das que foram dizimadas”.

Em Mato Grosso, a polêmica em torno dos prejuízos ambientais foi levantada no ano passado, quando cerca de cem índios da etnia Enawenê Nawê saquearam e incendiaram a PCH Telegráfica, uma das cinco obras de hidrelétricas em andamento ao longo do rio Juruena. Os índios alegavam que a construção das usinas - licenciadas pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) – comprometeria a biodiversidade do rio, de onde tiravam parte significativa de sua alimentação.

“As hidrelétricas em série comprometem totalmente a fauna aquática. Mas as pessoas não encaram os rios como ecossistemas e os empresários os enxergam como recursos a serem aproveitados. A legislação ambiental é um verniz”, lança Flávio Lima.

Para o doutor Francisco de Arruda Machado, do departamento de botânica e ecologia da UFMT, as obras de PCH’s separam orçamentos pífios para estudos prévios de impacto em Mato Grosso, Estado que detém importantes cabeceiras das bacias Platina e Amazônica Meridional.

Renê Dióz

Fonte: http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=337915

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04/03/2008

Estudos de impacto de hidrelétrica no Xingu são suspensos e índios voltam a exigir fim de usinas




Representantes Ikpeng reúnem-se com governo federal para discutir Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) na região das cabeceiras do Xingu depois de liberar 14 reféns. Lideranças xinguanas vão consultar comunidades sobre continuidade dos estudos da PCH Paranatinga II

Mais de 80 índios do Parque Indígena do Xingu, incluindo cerca de 70 guerreiros Ikpeng, conseguiram do governo a suspensão temporária dos estudos complementares sobre os impactos ambientais da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Paranatinga II. A reivindicação foi atendida depois de uma reunião na sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Brasília, entre quinta e sexta-feira, com representantes de vários órgãos do governo federal. A usina começou a funcionar para testes há algumas semanas no Rio Culuene, um dos principais formadores do Xingu, entre os municípios de Campinápolis e Paranatinga (MT), ao sul do parque.

A realização do encontro foi uma exigência dos Ikpeng em troca da libertação de 14 reféns em negociação feita diretamente com o presidente da Funai, Márcio Meira. Do dia 20 ao dia 25, ficaram retidos na aldeia Moygu seis funcionários do órgão e oito consultores da Paranatinga Energia S.A., que coletavam dados sobre os efeitos para os povos indígenas da barragem, de responsabilidade da empresa. Todos foram soltos e levados para Cuiabá.

Além dos Ikpeng, participaram da audiência em Brasília representantes de outras etnias, como os Kuikuro, Kamaiurá, Waurá, Kaiabi, Kalapalo e Yawalapiti. Agora eles voltarão às suas comunidades para consultá-las sobre a continuidade dos estudos. Se forem autorizados, eles serão retomados com técnicos indicados pelos índios em acordo com a Funai. As lideranças xinguanas pretendem manifestar-se novamente só quando tiverem em mãos as conclusões das pesquisas complementares ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima) da PCH feitas até agora.

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Estudos

De acordo com a Paranatinga, os consultores estavam coletando mais dados para definir medidas de compensação às comunidades indígenas e já teriam visitado nove etnias quando foram feitos reféns. A equipe de especialistas começou a expedição pelo Culuene na primeira semana de fevereiro. Segundo as assessorias da empresa e da Funai, o grupo teria a autorização dos índios para entrar em suas terras.

O cacique Managu Ikpgeng admite que teve conhecimento do radiograma que comunicava a vinda dos pesquisadores, mas afirma que a Funai não informou que eles eram contratados pela Paranatinga e que a comunidade não teve tempo de se pronunciar a respeito. “Só ficamos sabendo que eram técnicos da empresa quando já estavam em área. Por isso ficamos irritados. Não estamos sendo informados direito sobre esses estudos e suas conclusões”. Os Ikpeng afirmam que vêm tentando negociar com o governo, mas sem sucesso, e não tiveram alternativa além de fazer os reféns para tentar impedir que mais usinas sejam construídas na região. Managu confirma que seu povo não recebeu os relatórios dos estudos complementares da PCH e que vai seguir lutando contra o seu funcionamento e a instalação de novas usinas no Xingu.

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Matéria completa: http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2618

Entrevistas com índios de 24 etnias de Mato Grosso - além de entidades missionárias e Ong's -

revelam que a terra ainda é a principal demanda dos povos indígenas do Estado.
Invasões, ocupações irregulares, obras de infra-estrutura que causam impacto às áreas demarcadas e fortes pressões econômicas estão a ameaçar o futuro das etnias.




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quinta-feira, 9 de julho de 2009


"NÃO HERDAMOS ESTE MUNDO

DE NOSSOS ANTEPASSADOS,
NÓS O RECEBEMOS
EMPRESTADO DE NOSSOS
DESCENDENTES."

Fonte: http://blogprojetoaracai.blogspot.com/

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COMO SURGIRAM AS ESTRELAS






Era um tempo de grande seca para as tribos e não havia alimento. As índias reunidas saíram em busca de comida para os maridos e os filhos.

Procuraram por todo o lugar, mas não viam caça, nem fruto, nem nada para comer. Então resolveram levar junto um grupo de curumins para darem sorte.

E deu certo. Logo acharam um grande milharal em que as espigas não haviam sido atingidas totalmente pela seca. Ali, puderam encher os cestos com espigas amarelinhas.

Os curumins também ajudaram a colher o milho, mas ficaram com fome e voltaram antes para tribo, carregando uma boa parte.

Na tribo, pediram para a avó fazer um bolo. Ela fez e não demorou a comerem tudinho. Só ficaram as migalhas que os pássaros devoraram.

Quando terminaram ficaram com vergonha. Como podiam ter comido tudo sozinhos quando todos estavam com fome?

Com medo de que as mães os repreendessem, eles trataram de fugir. Pediram para o colibri que amarrasse no céu o maior cipó que encontrasse, e por ele começaram a subir.

Quando notaram o sumiço dos curumins, as índias ficaram preocupadas e voltaram correndo para a tribo. Quando chegaram, viram os curumins subindo o cipó.

Assustadas, elas começaram a subir também os cipós para salvar os curumins, mas eles estavam cada vez mais alto.

O cipó não era forte e rompeu com o peso. As índias caíram no chão, transformando-se em onças. Os curumins, que já estavam no céu, não conseguiram mais voltar.

Assim, durante a noite, da tribo, quem olhasse para o céu ainda podia ver os pontinhos brilhantes dos olhinhos dos curumins, transformados em grandes estrelas.

Esta e outras lendas indígenas foram pesquisadas e elaboradas em site pelos alunos de uma Escola Pública de Porto Alegre - RS

fonte:http://websmed.portoalegre.rs.gov.br/escolas/montecristo/03almanq/lendas.htm


  • "Para nós indígenas, a palavra é de grande valor.

  • É através das histórias contadas pelos mais velhos
  • que mantemos viva a nossa identidade
  • e firme a memória da nossa história,
  • o uso e o cuidado com a nossa terra sagrada.

  • Mas, descobrimos nesses 500 anos de colonização
  • que para os não-índios
  • a palavra não vale nada."

  • (
    Carta do Ororubá; IV Assembléia Geral do povo Xukuru do Ororubá)
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sexta-feira, 3 de julho de 2009


TAMANDUÁ-
MIRIM






Este tamanduá, como os outros, se alimenta unicamente de formigas, cupins ou abelhas.
Para isso, o tamanduá-mirim precisa destruir seus ninhos, às vezes muito resistentes, usando as garras de suas patas, bastante fortes, sobretudo a do meio.

Essa garra é tão preciosa que, para não danificá-la, o tamanduá se apóia apenas nos lados das mãos, quando se aventura a descer para o chão.

Difundido pelas florestas tropicais,o tamanduá-mirim ocorre na América do Sul, a oeste dos Andes, Venezuela, ao norte da Argentina e no Brasil, este tamanduá é sobretudo arborícola.


O tamanduá-mirim faz parte de uma ordem extremamente primitiva, os xenarthras, que possuem baixa temperatura corpórea e baixo metabolismo, associados aos hábitos arbóreos e ao consumo de alimentos pouco energéticos. Os baixos níveis metabólicos são influentes nos longos períodos de gestação e, número reduzido de crias.


O tamanduá-mirim possui cabeça, pernas e parte anterior do dorso de coloração amarelada, restante do corpo negro, formando uma espécie de colete. Sua garra e a longa cauda preênsil permitem que ele se movimente com agilidade por entre os galhos das árvores.

O tamanduá-mirim é discreto e tem hábitos noturnos. Dorme no oco de uma árvore durante o dia e sai à noite para se alimentar. Os tamanduá-mirim são solitários, encontram-se apenas em época de reprodução.
Como todos os tamanduás, ele não tem nem sinal de dente. Sua língua é muito comprida e as glândulas salivares, muito desenvolvidas, produzem uma saliva particularmente colante. A cauda do tamanduá-mirim é pelada com algumas manchas escuras. Seu crânio tem formato alongado, juntando-se ao focinho, à boca e aos olhos muito pequenos. Tudo para facilitar suas investidas em buracos pequenos de cupinzeiros.

Pouco se sabe a respeito de sua reprodução de tamanduás-mirim, pois ele é de difícil observação e não se reproduz em cativeiro. Sabe-se apenas que o filhote nasce na primavera. As fêmeas são poliéstricas (apresentam cios durante todo o ano) com gestação que varia de 130 a 190 dias, gerando apenas um filhote. O filhote nasce com cerca de 1,3 kg. Durante oito ou nove meses, os filhotes se alimenta somente de leite. Após esse prazo, a fêmea ensina as técnicas de caça aos insetos ao filhote e, é carregado no dorso da mãe ou deixado em alguma toca e quando fica mais velho pode acompanhar a mãe em suas atividades de alimentação.

fonte: http://www.achetudoeregiao.com.br/animais/tamandua_mirim.htm

A floresta emerge das cinzas

Numa briga incessante com a civilização
A menina se ergue das cinzas
Tão forte e viril se sente importante
Não mais destruída não mais enfraquecida

Essa diva dos olhos que tanto esquecemos
Mora nos corações das pessoas adormecidas
Tirando o sangue em suor de batalhas febris
Motos serras gritam a fazem gemer
Mas a menina não tomba

Há como é bela essa diva, que tanto esquecemos.
Ela é bruta aos nossos olhos
Bruto somos nós que a fazemos cair
Mas assim vai levantando
Não deixa a peteca cair

Vamos, podemos salvar nossa menina.
Que os gringos olham com inveja
E que nos a deixamos levar
Não sejamos relapsos sejamos uma família

E a faça erguer das cinzas.

André Fernandes



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quarta-feira, 1 de julho de 2009


Os inimigos da Amazônia estão aqui

Virgilio Viana




Uma infeliz série de artigos, incluindo um publicado no jornal The New York Times, realimentou um fantasma que nos persegue há bastante tempo: o risco da internacionalização da Amazônia. Um dos poucos brasileiros que tinham a coragem de apontar para o equívoco desta “iminente ameaça à nossa soberania” era o saudoso senador Jefferson Péres, que, num dos seus últimos discursos, disse: “Não tenho tanto medo da cobiça internacional sobre a Amazônia. Tenho medo da cobiça nacional sobre a Amazônia, da ação de madeireiros, de pecuaristas e de outros que podem provocar, repito, o holocausto ecológico naquela região.”

Não creio que exista uma conspiração em curso com o objetivo de internacionalizar a Amazônia. A lógica é simples: os alegados interesses econômicos de outros países não precisam de tropas ou domínio estrangeiro para usufruir as riquezas da região. Basta ver o setor de mineração, com forte domínio de multinacionais, que lavram nossas riquezas à luz do dia, amparadas pela lei, em todo o território nacional, incluindo a Amazônia. Recentemente, uma licitação colocou nas mãos de um consórcio internacional a responsabilidade sobre a hidrelétrica de Jirau, que terá importância estratégica para a região e o País. Empresas multinacionais apóiam a produção de soja na Amazônia. Poderíamos falar sobre a participação estrangeira em setores estratégicos como telecomunicações, etc... Tudo isso sem a necessidade de nenhuma “invasão” ou “domínio” de outros países ou aquisição de terras por estrangeiros.

Alguns enganos são realimentados pela imprensa e servem para nutrir o debate sobre a “internacionalização”, que deveria ser periférico na discussão sobre o futuro da Amazônia. A frase atribuída a Al Gore não foi dita por ele, mas sim por um congressista norte-americano de pequena expressão. Os cadernos escolares americanos com o mapa da Amazônia excluída do Brasil nunca existiram de fato e foram montados por um site na internet. Existem muitos outros enganos repetidos de forma equivocada.

O cerne da “questão amazônica” é outro e mais incômodo: os inimigos da Amazônia estão aqui mesmo, dentro do nosso país. Na sua quase absoluta totalidade, são brasileiros os que desmatam, produzem e compram madeira ilegal, plantam soja, promovem a grilagem de terras e assassinam líderes dos movimentos sociais. A ação do poder público brasileiro, salvo raras exceções, tem sido insuficiente para reverter esse quadro. Infelizmente, essa é a dura realidade. O problema está aqui, e não no exterior.

A solução inclui quatro componentes principais.

Primeiro, precisamos de um Projeto Nacional para a Amazônia que explicite o óbvio: desmatar é contra o interesse nacional. Das florestas amazônicas depende a chuva que irriga a agropecuária e abastece as hidrelétricas e as cidades em quase todo o Brasil. Soma-se a isto o potencial socioeconômico de produtos florestais, obtidos sob regime de manejo sustentável. O Projeto Nacional para a Amazônia deve seguir o exemplo das políticas de sustentabilidade do Amazonas, baseadas num princípio simples: a floresta deve valer mais em pé do que derrubada.

Segundo, precisamos de políticas públicas eficazes e na escala correta. Sabemos como promover o desenvolvimento sustentável na região. Existem muitos exemplos de sucesso que precisam apenas ganhar escala. Faltam investimentos públicos e gestão eficiente.

Terceiro, precisamos envolver a sociedade civil, universidades e o setor privado numa grande cruzada em prol da sustentabilidade do desenvolvimento da Amazônia. Devemos combinar os conhecimentos tradicional e científico, a criatividade e o empreendedorismo brasileiros a favor de um projeto nacional de sustentabilidade para a região.

Quarto, devemos ser proativos no cenário internacional. O caminho é utilizar o interesse internacional a nosso favor, cobrando dos países desenvolvidos mecanismos financeiros que valorizem o papel de nossas florestas para a sustentabilidade do planeta.

Buscar vilões estrangeiros é mais cômodo e simples, mas, infelizmente, não vai resolver o cerne do problema. O problema está aqui, na nossa cara. De nada adianta satanizar organizações não-governamentais, que, no geral, realizam ações positivas nos campos sociais e econômicos. Dificultar a participação de estrangeiros no desenvolvimento científico e tecnológico da região? Burrice. Deveríamos, ao contrário, fomentar parcerias e a cooperação inteligente. Proteger contra a biopirataria? O caminho é fomentar o desenvolvimento tecnológico e o de indústrias de biotecnologia na região. Deixar as florestas amazônicas fora do mercado de carbono? Não. Deveríamos defender a instituição de mecanismos de pagamento por serviços ambientais para remunerar as populações que vivem na floresta. Ao invés de optarmos por uma posição retranqueira e isolacionista, deveríamos ser proativos e propositivos no cenário internacional.

Obviamente, reposicionar o debate sobre a soberania da Amazônia não significa que devamos negligenciar os interesses e movimentos de outros países na região. Temos de estar alertas. Existem, em toda parte, interesses escusos que devemos combater, especialmente o narcotráfico em áreas de fronteira. Felizmente, os militares representam o que há de melhor em termos de presença do Estado na região, ao desempenharem com competência sua função de guardiões do nosso território.

Identificar os inimigos certos e nossas metas estratégicas é essencial para vencermos a batalha pela defesa da Amazônia. Nosso desafio é cuidar bem da sustentabilidade da Amazônia. Com competência e seriedade. Esta é a melhor arma para defendermos os interesses estratégicos e a soberania do Brasil na região.

Virgilio Viana é diretor-geral da Fundação Amazonas Sustentável
Site: www.fas-amazonas.org


fonte: http://www.aleac.ac.gov.br/aleac/luizgonzaga/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1&limit=10&limitstart=250


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