terça-feira, 16 de novembro de 2010

QUEBRANDO


 O 


SILÊNCIO









Quebrando o Silêncio é um documentário baseado na linha do cinema verdade, que traz depoimentos reais de sobreviventes do infanticídio



Ajude a enterrar uma criança indígena


// abril 21st, 2010 // 

Deputado paranaense usa o plenário para falar sobre filme de jornalista paranaense
A jornalista e documentarista paranaense Sandra Terena, uma das poucas jornalistas indígenas do Brasil, saiu do anonimato com o documentário “Quebrando o Silêncio”. Finalizado em 2009 com recursos próprios, o filme já conferiu à diretora dois prêmios e está despertando interesse pelo Brasil O filme, que tem apoio da entidade brasiliense Atini – Voz Pela Vida em sua produção e divulgação, retrata a vivência de algumas tribos em relação ao infanticídio indígena. Crianças que são filhos de mãe solteira, gêmeos ou deficientes físicos são sacrificadas em nome da cultura.
No dia 19 de abril, dia do índio, o deputado federal Íris Simões (PR-PR) usou a tribuna do Congresso Nacional para chamar a atenção dos deputados para a prática de matar crianças indígenas. “Fui surpreendido, neste fim de semana, por uma carta que recebi da jornalista e indígena Sandra Terena que relata a preocupação sobre um documentário que realizou e lançou em Brasília no dia 31 de março deste ano sobre o infanticídio”. Em seu discurso, Simões pediu de forma veemente uma atitude da Câmara. “. A Comissão de Direitos Humanos, nos próximos dias, vai fazer um debate sobre essa questão, mas é latente que nós temos que fazer alguma coisa”, disse Simões.
No momento em que o deputado discursava na Câmara, uma equipe de jovens indígenas de pelo menos três povos diferentes, distribuía um folder nos corredores do parlamento com a seguinte frase: “Ajude a enterrar uma criança indígena”. Junto com a entrega, eles colocavam terra nas mãos dos deputados. “Foi emocionante. Durante a manifestação muitos parlamentares manifestaram solidariedade a nossa luta e conquistamos muitos aliados”, diz Damares Alves, conselheira da ong Atini – Voz pela Vida.
A jornalista Sandra Terena, que estava em Belo Horizonte para participar de um programa ao vivo na Rede Minas de Comunicação, sobre o centenário do indigenismo no Brasil, enviou mensagens de solidariedade aos manifestantes. “Este ano comemora-se cem anos de trabalhos com os povos indígenas. Nós, índios, não queremos mais que decidam por nós, não queremos mais ser integrados, como prevê o estatuto do índio. Temos autonomia para decidir o que é melhor para nós. E, nas entrevistas do filme Quebrando o Silêncio percebi que muitos dos meus parentes não querem mais matar as nossas crianças”, diz Sandra.
O líder xinguano Kakatsa Kamaiurá também emocionou parlamentares e assessores com sua fala. “Ei autoridades, vocês falam de nós sem nos conhecer. Vocês decidem por nós sem conhecer as nossas necessidades. Vocês nunca caçaram comigo. Não sabem o que o índio precisa. Ei deputados, deixa o índio falar, deixa a liderança kamaiurá falar”, disse.
Devido à repercussão deste tema, a Unicef, em 2009, abriu um edital para pesquisadores emitirem um relatório sobre a questão do infanticídio no Brasil. Quem está à frente deste trabalho é a antropóloga Mariana de Holanda. Este trabalho é contestado por organizações indigenistas porque os indíos reivindiam ter voz ativa nessa questão e por isso a pesquisa realizada pela jornalista indígena Sandra Terena, que resultou no filme Quebrando o Silêncio, deveria ter sido levada em consideração de forma pública. Em um depoimento no portal Amazônia.org, Mariana diz que “uma criança indígena quando nasce não é uma pessoa. Ela passará por um longo processo de pessoalização, no qual as relações que for estabelecendo serão fundamentais para que adquira um nome e, assim, o status de ‘pessoa’. Portanto, os raríssimos casos de neonatos que não são inseridos na vida social da comunidade não podem ser descritos e tratados como uma morte, pois não é. Infanticídio, então, nunca”.
No artigo: A estranha teoria do homicídio sem morte, Márcia Suzuki, conselheira da Atini, revela que alguns antropólogos e missionários brasileiros estão defendendo o indefensável. “Através de trabalhos acadêmicos revestidos em roupagem de tolerância cultural, eles estão tentando disseminar uma teoria no mínimo racista”. A teoria de que para certas sociedades humanas certas crianças não precisariam ser enxergadas como seres humanos.
Nestas sociedades, matar essas crianças não envolveria morte, apenas interdição de um processo de construção de um ser humano. Mesmo que essa criança já tenha dois, cinco ou dez anos de idade. “Somos contra esse posicionamento. A partir do momento em que as mulheres e lideranças indígenas se manifestaram a favor da vida é obrigação do governo e sociedade prover meios para que essas crianças possam sobreviver. Para que isso possa se tornar realidade é preciso que o governo pense políticas públicas para atender essa questão. Sandra concorda. Para ela, essas políticas devem vir das bases, das lideranças tradicionais das aldeias.” Sou a favor de uma ampla consulta pública nas cinco regiões do Brasil e de preferência nas aldeias. Chega de decidirem por nós. Este é um momento que o protagonismo deve ser indígena.”, afirma.

Fonte: http://quebrandoosilencio.blog.br/

.