



Antigamente, existiam três irmãos: Okumáató (Icatareté), Ikuamã (amã) e Onhiamuaçabê (Tupana), que era mulher solteira e cobiçada por todos os animais da floresta, causando ciúmes aos irmãos que a queriam sempre como companhia, por causa dos conhecimentos que possuía sobre plantas medicinais.
A lenda diz que, certo dia, uma cobrinha ficou à espreita no caminho de Onhiamuaçabê e a tocou levemente em uma das pernas, engravidando-a.
A mitologia indígena afirma que para uma mulher engravidar bastava que fosse tocada por homem, animal ou planta que a desejasse como esposa.
Desse contato nasceu um curumim bonito e forte. Na idade de entender as coisas, o curumim ouviu da mãe que ao senti-lo no ventre plantara para ele uma castanheira no Noçoquém (lugar sagrado onde ficavam todos os animais e plantas úteis), mas que seus irmãos tomaram o terreno e a expulsaram por causa da gravidez.
Ele, então, certo dia, decidiu comer as castanhas. O lugar, no entanto, estava sob a guarda da cutia, da arara e do periquito. Este denunciou o ato a Okumáató e Ikuamã. No dia seguinte, quando o pequeno saterê-mawê voltou a Noçoquém, os guardas o esperavam para matá-lo.
Pressentindo a morte do filho, Onhiamuçabê correu para defendê-lo, mas o curumim já havia sido decapitado. Desesperada, sobre o cadáver da criança jurou dar continuidade à sua existência.
Arrancou-lhe o olho esquerdo e o plantou na terra. O fruto desse olho não prestou: era o guaraná-rana (guaraná falso). Em seguida, arrancou-lhe o olho direito e deste nasceu o verdadeiro guaraná. E como o sentisse vivo ainda, exclamou: “tu, meu filho, serás a maior força da natureza; farás o bem a todos os homens e os curarás e livrarás das doenças” .
E a planta do guaraná foi crescendo, crescendo... Passado algum tempo, Onhiamuçabê foi atraída, diversas vezes, por ruídos na sepultura do filho, que a cada vez que a abria de lá saía um animal.
Assim nasceu o macaco cuatá, o cachorro, o porco-do-mato e o tamanduá bandeira. Novamente atraída pelos ruídos, abriu a sepultura do filho, mais uma vez, e dela saiu uma criança que foi o primeiro mawê. Era o filho dela que renascera.
Quando os mawês descobriram e domesticaram a planta silvestre do guaraná, tipo de trepadeira enroscada nos galhos de imensas árvores amazônicas, ninguém sabe.
Mas suas histórias contam que o guaraná é filho de uma índia que dominava o segredo das plantas medicinais e sabia preparar os remédios da floresta.
Em suma, é fruto da saúde que livra os homens das moléstias, curando-os e mantendo o equilíbrio da vida no delicado ambiente da floresta. Nele está presente a idéia da eterna transformação da vida, em que desaparecem as fronteiras entre os homens, animais e plantas e denota a perfeita integração do índio com a natureza.
IHU On-Line – Como é para o senhor enfrentar os perigos de lutar contra os poderosos da Amazônia?
Dom Erwin – Acredito que não conseguimos enfrentar, de verdade, porque o problema é que tomamos posição e não procuramos brigar nem provocar ninguém. No entanto, se você toma posições a favor de um segmento da sociedade que é menos favorecido, você se torna adversário dos outros sem querer, porque contraria interesses de governança. Por exemplo, eu me coloquei ao lado dos povos indígenas, que têm direito à sua terra e isso é, automaticamente, visto como característico de quem é contra o progresso e desenvolvimento. Se a gente toma posição a favor dos colonos, sem-terra, agricultores, sem-teto, isso provoca alguém que pensa que irá perder com essa posição. De modo especial, esses aventureiros que vão para a Amazônia e querem enriquecer da noite para o dia se sentem “pisados no calo”. E eles reagem porque não têm argumento. Quem não tem argumento reage de maneira irracional, com ódio, faz ameaças e tem rancor.
IHU On-Line – Para o senhor, o que está em jogo em Roraima?
Dom Erwin – A área de Raposa Serra do Sol foi demarcada e homologada. O processo de demarcação de área indígena é o seguinte: primeiro se identifica a área, através de estudo antropológico. Depois, ela é delimitada. A seguir, é feita a demarcação, onde a área é oficialmente indígena. E o passo final é a homologação, ou seja, o presidente assina o decreto dizendo que essa área é indígena. Esse é o caso de Raposa Serra do Sol, pois a área foi homologada. Todos os passos foram feitos. Agora, claro, aqueles que estão lá dentro não têm direito de ficar. A área é indígena, e não de terceiros, que a invadiram. Então, o governo tem obrigação, através de suas forças, de tirar os intrusos. No momento, acontece o seguinte: seis arrozeiros se negam a sair. Através dessa liminar do Supremo Tribunal Federal, que solicitou a suspensão da ação da Polícia Federal para retirá-los, eles passaram a se sentir na pele da lei. Esse é o maior absurdo que já ouvi na minha vida. Nossa justiça é classista, pois defende o direito dos intrusos, dos que não têm direito. Os arrozeiros estão festejando como se tivessem ganhado a maior vitória.
IHU On-Line – Qual é a sua avaliação do governo Lula em relação à violência contra os povos indígenas brasileiros? Qual será a função do relatório que o CIMI lançou durante esta semana?
Dom Erwin – O empenho do atual presidente é de quem não tem muita afinidade com a causa indígena. Ele não conhece bem os povos indígenas e tem uma visão de desenvolvimento que não se pode aplicar a eles. O seu modelo de desenvolvimento é economicista. Não é de um povo, da pessoa, da família. O PAC é um exemplo disso, porque visa o agronegócio, a exportação, aumentar o crescimento econômico e não os valores de um povo.Nós apresentamos o relatório sobre a violência contra os povos indígenas 2006-2007 e ele é estarrecedor, pois, ao invés de diminuir, aumentou muito. Não é possível que aqui no Brasil, em pleno século XXI, ainda se mate índio a torto e a direito. O índio é, também, induzido ao suicídio ao ser encurralado numa área diminuta e não tem condição de sobreviver nem fisicamente nem culturalmente. Esse relatório é uma chamada para mobilizar a sociedade e o governo para dar um basta na violência que ceifa a vida dos índios.
IHU On-Line – Qual é a sua avaliação da Assembléia dos bispos desse ano?
Dom Erwin – Foi muito positiva, no sentido de que conseguimos vencer uma pauta enorme e homérica. Discutimos os documentos e as Diretrizes da Ação Pastoral 2008-2010 e, depois de várias notas, escrevemos novos documentos, inclusive uma moção de apoio aos povos indígenas de Raposa Serra do Sol. Depois, os bispos escreveram um documento de solidariedade aos outros que estão ameaçados de morte, entre outras muitas coisas.
Entrevista na íntegra:
http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_entrevistas&Itemid=29&task=entrevista&id=13213
Todas as civilizações tiveram ou têm a sua cosmogonia, através da qual interpretam a realidade e se relacionam com ela. São as explicações para as origens do universo, da vida e na natureza como um todo, recheadas de lendas e mitos.
Esses personagens e histórias, em geral, são didáticos, estabelecem regras e normas de comportamento. Os índios brasileiros, por exemplo, têm uma concepção do universo que privilegia a natureza, sua fonte de sustento. O homem é incluído nela como parte integrante, em condições de igualdade, sem privilégio.
Algumas tribos acreditam que Tupã, depois de criar o universo, criou os semi-deuses, o homem e outras criaturas com as quais povoou a Terra. Tupã criou também o Mundo superior, onde habitam os deuses e os bons, e o Inferior; onde ficam os maus e os seres demoníacos. Anhangá, por exemplo, é um deus maldito, cheio de ódio em seu coração, enviado para o mundo Inferior.
Entre as criaturas que Tupã espalhou pela Terra estão o Curupira, um semi- deus que protege as florestas e a natureza da ação destrutiva dos homens. O Curupira é uma criatura baixinha e de cabelos de fogo. Sua lenda revela o ponto central da relação dos índios brasileiros com mata. Não é uma relação de exploração, de uso indiscriminado. É uma relação de respeito pela vida, uma relação de troca. O Curupira não se incomoda, por exemplo, com o "bons caçadores", aqueles que vão à caça para matar a fome. Os "maus", no entanto, que matam para ser divertir, ou indiscriminadamente, fêmeas e filhotes, acabam caindo nas armadilhas do Curupira.
Aliás, para os bons, ele nem aparece. E quem o viu, conta a lenda, está correndo até hoje. Seu truque predileto é se transformar em caça, uma paca, um tatu, onça ou qualquer outro bicho que atraia os caçadores para o meio da floresta. E lá eles ficam, perdidos para sempre. Mesmo sabendo que matar animais abater árvores para a subsistência não é alvo da ira do Curupira, os índios entram na mata cheios de respeito e termos. Eles costumam levar sempre presentes para agradar ao protetor da floresta, como fumo, comida, flechas e objetos que deixam nas trilhas.
Essa relação dos índios com a natureza, estabelecida pela forma com eles compreendem o cosmos, contrasta com a visão judaico-cristã do mundo, onde o Deus criador é um ser parte, que construiu o universo e entregou- o ao homem para que usasse conforme os seus desejos. O homem é superior a tudo.
Na visão da lenda indígena, Tupã continuou preocupado com aquilo que criou, impôs regras, estabeleceu limites para a sua utilização. Criou até seres que fiscalizam. Nesse caso, o homem é parte integrante da natureza, que deve se relacionar de igual para igual com o meio- ambiente.La espiritualidad no puede ser comprada ni vendida,
y nadie tiene derecho de lucrar con ella.
Las oraciones no pueden ser compradas.
Quienes participan y apoyan a los "curanderos",
"jefes", "líderes de tribus" y "shamanes" fraudulentos
solamente están sanando las finanzas personales del exponente y,
al hacerlo, contribuyen a la destrucción no sólo de la cultura Lakota
sino también de los caminos espirituales de todos los pueblos indígenas.
Possuindo uma heráldica, uma tradição cativante que o recomenda às preferências domésticas, já pelo talho ornamental, já pelos irresistíveis dotes talismânicos, o tajá é visto em profusão nas casas de família de Belém e Manaus e espalha-se pelas habitações de todo o interior, graças aos poderes secretos que lhe emprestam os mestres da pajelança local.
O tajá "curado" ou trabalhado nos segredos e mistérios da bruxaria, constitui-se num inestimável auxiliar e protetor de seus possuidor, podendo ser usado para felicidade, amor, sorte ou caça e até prender o ser amado.
Nunes Pereira escreve:
"As virtudes dos tajás dos macuxis são incontáveis como seus tipos. Há tajás para defender a casa e a roça indígena; tajás para fazê-lo bom caçador e bom pescador; tajás para torná-lo invisível aos inimigos e mesmo aos astutos do cruel Kemé; Tajás contra fadiga; tajás para vencer todas as provas; tajás que o faz querido das mulheres."
Osvaldo Orico, já lhe confere outros predicados:
"A mais bela versão é emprestada ao tajá-sol. Possui este, no centro da folha, uma grande mancha vermelha com formato de coração, cercado pela moldura verde. Quando os índios estavam longe da amada e sentiam necessidade de vê-la, recorriam a um processo mais veloz que o aeroplano e menos dispendioso que a televisão. Gritam o nome da pessoa desejada no centro do tajá do sol. E logo, a imagem do ente querido aparecia na parte rubra da folha, como um espelho incendiado pelo poder da ausência."
Há milhares anos atrás, na tribo Macuxi, havia um guerreiro forte e corajoso que se apaixonou por uma linda jovem de sua aldeia. Ela lhe correspondeu tão nobre sentimento e passadas algumas luas, uniram-se em matrimônio.
Casal tão apaixonado nunca mais existiu. Passavam sussurrando juras de amor baixinho, um para o outro. Mas eis que um dia, um estranho mal se acometeu da indiazinha, tornando-a paralítica. O índio Macuxi, para não separar-se de sua amada, teceu uma tipóia e a carregava em suas costas. Mas apesar de tantos cuidados e carinhos, ela não resistiu à enfermidade e morreu.
O guerreiro foi então à floresta e cavou um buraco à beira de um igarapé, enterando-se junto com sua adorada esposa, pois sua vida não tinha mais sentido sem ela.
Ao cair de algumas e chegando a grávida Lua Cheia, da sepultura brotou uma delicada planta, uma espécie desconhecida para os mais entendidos índios Macuxis.
Texto pesquisado e desenvolvido por ROSANE VOLPATTO Bibliografia: Amazônia - Gastão de Bettencout ,Moronguêtá - Nunes Pereira
A FORÇA DO CONHECIMENTO ANCESTRAL
Eliane Potiguara
Relação de gênero na espiritualidade indígena e
o combate à violência
Por que agüentamos tanta violência? Nós, mulheres dos segmentos dos povos indígenas e afrodescendentes ainda agüentamos tanta violência porque não reforçamos a nossa mulher interna, a mulher selvagem que existe dentro de nós, a mulher primitiva, no sentido “primeiro”. Uma mulher deve andar com a força a sua frente, a profunda natureza intuitiva dessa mulher deve prevalecer na dualidade obrigatória de toda a mente feminina. E QUEM DÁ ESSA FORÇA? Receber a herança ancestral de nossa família ou de uma cultura é uma missão a cumprir, isso é praticamente obrigatório dentro da anima. Mas levar adiante essa herança é SABEDORIA. Quais as rasteiras que devemos dar no neocolonizador, no opressor político-cultural para despertarmos a força interior e transformá-la em sabedoria e arma para o crescimento da humanidade e melhor qualidade de vida? Como purificar a persona que existe em nós, com tantos vícios impostos pelo sistema político e econômico que nos racializa, nos oprime, nos mata e torna nossa auto-estima deplorável e faz com que aceitemos pacíficas, durante séculos, a violência, seja física, psicológica, sexual, mental e até espiritual!!!! Franz Fanon mostra em seu livro “Condenados da Terra” os resultados psicológicos maléficos da opressão política e racial ao povo argelino e há mais de 20 anos temos lido esse texto, tão atual ainda nos dias de hoje!!!!
A chama do conhecimento ancestral seja indígena ou oriunda de outras raízes deve ser despertada imediatamente na anima de todas as mulheres e dos homens também, para que possa despertar o feminino dentro deles e a parceria homem/mulher seja comungada dentro dos princípios dos direitos humanos mais transcendentais. Quando despertamos essa força começamos a reconhecer a sombra negativa da nossa psique, os aspectos negativos de nosso comportamento, o nosso inimigo interno e neste processo começamos a reagir contra a opressão, o racismo e a destruição causados a nossa persona, que vai se somando a milhares e milhares de mentes do planeta Terra nestas partes do mundo que se permitem chamar “Terceiro Mundo”, obscuro, oprimido social, racial, econômica e politicamente.
.......................Essa grandeza se traduzia também na requintada cerâmica cerimonial. O desenho mais comum é o da serpente, representada por espirais.
As peças mais curiosas dessa arte sacra são as urnas funerárias, nas quais eram enterrados os figurões da tribo. Em algumas havia crânios deformados propositalmente, por meio de faixas amarradas à cabeça desde o nascimento. A prática indicava status e era comum nas culturas andinas.
Mais de 1 000 anos antes do biquini, as marajoaras já usavam tanguinhas feitas de barro. Elas eram pintadas de vermelho ou decoradas com padrões típicos. Os cordões que as prendiam passavam por três furos (veja desenho ao lado), na parte da frente. A maioria dos especialistas acredita que tenham sido roupas de festa, exclusivas da elite. Mas a arqueóloga Denise Pahl Schaan, do Museu Paraense Emílio Goeldi, desconfia que podiam ser parte do gurada-roupa diário. "Algumas têm os furos gastos, indicando uso freqüente". diz ela.
Os Marajoaras foram exímios ceramistas. Para os estudiosos os potes decorados de Marajó teriam função religiosa.
A parafernália cerimonial incluía vasilhas para inalar alucinógeos, bancos para os xamãs e estatuetas imitando falos.
Os marajoaras sumiram misteriosamente por volta de 1300, por causa de brigas internas ou do ataque de outros povos. Quando os portugueses chegaram, Marajó era habitada por índios aruaques. Seus antecessores, até onde se sabe, não deixaram descendentes.
A Amazônia, na época de sua descoberta pelos europeus, no meio do século XVI, ela pode ter chegado a reunir 7 milhões de habitantes – o equivalente à população atual dos Estados do Pará e do Amazonas. O navegador português Bento da Costa, um dos primeiros brancos a percorrer o Rio Amazonas de ponta a ponta, escreveu em 1637 que “se do ar deixasse cair uma agulha, há de dar em cabeça de índio e não no solo”. Descobertas arqueológicas dos últimos quinze anos mostram que a Floresta Amazônica era ocupada por tribos muito avançadas. Elas comerciavam a grandes distâncias e construíram aldeias que se estendiam por quilômetros.
Duas nações sobressaíram: a marajoara, na ilha de Marajó, e a tapajônica, na região da atual cidade de Santarém, no Pará. Quase nada sobrou desses povos, que começaram a se desenvolver mais de 1000 anos antes do desembarque de Cabral. O vandalismo dos conquistadores e a umidade da selva apagaram quase todos os vestígios de sua existência.
Só ficou a cerâmica, reveladora de uma cultura de alto grau de refinamento estético.
Eldorado de Barro / Claudio Angelo in Super Interesante Especial Pré-História Brasileira nº 8 - abril 1999 - Editora Abril.
Mapa: Paulo Nilson
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