KUARUP
O Kuarup é um ritual dos grupos indígenas do Parque do Xingu para homenagear os mortos.
Os troncos feitos da madeira “kuarup” são a representação concreta do espírito dos mortos ilustres. Corresponderia a cerimônia de finados dos brancos, entretanto, o Kuarup é uma festa alegre, afirmadora, exuberante, onde cada um coloca a sua melhor vestimenta na pele. Na visão dos índios, os mortos não querem ver os vivos tristes ou feios.
Descrição do Kuarup da tribo Kuikuro – Região do Rio Kuluene
Uma cerimônia de mais profundo sentimento humano realizam os Kuikuro no mês de maio de cada ano e sempre em uma noite de lua cheia. Num cenário fantástico os índios desta tribo, convidam as tribos amigas para evocarem juntas, as almas dos mortos ilustres. Ainda noite, trazem da floresta vários toros de madeira, conforme o número dos que desapareceram, que vão ficando em linha reta no centro do terreiro em frente às malocas onde são recortados na forma humana de cada um e pintam neles as respectivas insígnias que em vida os fazia distinguir pajés, guerreiros, caçadores ou até mesmo aqueles que maior descendentes legaram à comunidade. Enquanto são executados estes trabalhos. Alguns homens com arco e flechas entoam hinos aos mortos.
Tudo pronto, aos gritos de há-ha, vão os homens às malocas e de lá voltam acompanhados das mulheres e crianças. As mulheres, de cabelos soltos, trazendo algumas frutas e guloseimas, em largas folhas de palmeira, outras, ricos cocares, plumagem de coloridos vivos, braceletes e colares, aproximam-se em passos harmoniosos dos kuarupes e em voz baixa como um sussurro, travam com eles um pequeno diálogo em que parecem exprimir toda a gratidão, falando-lhes das saudades que deixaram, oferecendo-lhes ao mesmo tempo os frutos e guloseimas, e enfeitando-os com os ricos cocares, as plumas, os braceletes.
Vai-se fazendo noite, não tarda a escuridão, os homens trazem da floresta archotes de palha incendiados, cuja luz violenta faz luzir os corpos untados de urucum em reflexos metálicos que desenham toda a beleza dos seus músculos.
Começa a dança do fogo, fantástica visão em volta dos kuarupes.
Primeiro em passos cadenciados depois em um crescendo cada vez maior, ao ritmo do chocalhar dos maracás e das canções místicas, até se fazer ouvir a voz do pajé, numa evocação a Tupã, implorando fazer voltar à vida aqueles mortos ilustres. Neste exato momento a lua cheia se encontra em seu máximo esplendor.
Terminando a evocação os homens se dispersam pelo terreno em pequenos grupos, enquanto só o pajé continua a entoar as suas loas até o alvorecer.
De novo voltam as mulheres para ouvirem os cânticos que lhes anunciam ter o sol feito voltar à vida os mortos ilustres.
Então começa a dança da vida e é executada pelos atletas da tribo, cada um trazendo ao ombro uma longa vara verdejante, símbolo dos últimos nascidos na comunidade.
Os atletas formam um grande círculo correndo em volta dos kuarupes ao mesmo tempo que em gestos e curvaturas os reverenciam. Depois o grande círculo se divide em dois e logo cada qual se dissolve em vários grupos representando a sua respectiva tribo.
Encerram a cerimônia em que os Kuarupes são, em festiva procissão, levados para o rio, e lá, entregues às suas águas.
Imagens:http://www.funai.gov.br/ultimas/noticias/2_semestre_2008/julho/kuarup_004.html
1. Índios – Suplemento Especial. Encarte do Jornal Radical, produzido em parceria com a FUNAI – Fundação Nacional do Índio. Abril de 1997.
2. Danças do Brasil / Felícitas. - Rio de Janeiro: Editora Tecnoprint Ltda.,, sem/data
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